A reflexão sobre a Iniciação à vida cristã ajuda a descobrir caminhos para uma catequese que leve o catequizando a um encontro com Jesus Cristo na comunidade cristã.
A Iniciação à Vida Cristã é um desafio que precisa ser encarado com decisão, com coragem e criatividade, visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre e fragmentada. O documento de Aparecida já nos alerta: “ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp, 287).
Nesse sentido não podemos descuidar dos Evangelhos, fazendo deles nossos livros de cabeceira, ou nos limitamos ao que nos ensinam os catecismos, isto é, a cumprir certos ritos e a ouvir algumas homilias acerca de Deus.
Somos desafiados a retornar à vida de Jesus, de ler os Evangelhos outra vez e de reencontrar-nos com o Reino de Deus para celebrarmos na vida o banquete celeste. Mas para que isto aconteça precisamos recuperar o sentido religioso da práxis histórica de Jesus de Nazaré, inspirada na centralidade do Reino de Deus. É mediante a práxis que podemos encontrar caminhos de salvação.
Estamos falando de “como levar as pessoas a um contato vivo e pessoal com Jesus Cristo, como fazê-las mergulhar nas riquezas do Evangelho, como iniciá-las verdadeira e eficazmente na vida da comunidade cristã e fazê-las participar da vida divina, cuja expressão maior são os Sacramentos da Iniciação Cristã.
Iniciação Cristã – Novo viver que desperta para novas relações e ações
Conceber a catequese como Iniciação à Vida Cristã implica assumi-la como um longo processo vital de introdução de cristãos ainda não iniciados, seja qual for sua idade, nos diversos aspectos essenciais da vida cristã. Incluir adultos batizados e não suficientemente evangelizados, mas que desejam retomar seu caminho de fé. Somos também chamados a atenção para a evangelização das famílias, dos adolescentes e jovens, crianças, pessoas com deficiências, grupos culturais, pessoas em situações específicas, Comunidades, Bispos, Presbíteros, Diáconos, catequistas e todos os outros que se encontram envolvidos em Pastorais e movimentos, etc. Esta iniciação se desenvolve dentro do dinamismo trinitário: os três sacramentos, numa unidade indissolúvel, expressam a unidade da obra trinitária da iniciação: o Batismo nos torna filhos do Pai; a Eucaristia nos alimenta com o corpo do Filho e a Confirmação nos unge com a unção do Espírito;
Chamados a participar do Mistério Pascal de Cristo Jesus é preciso passar por uma experiência impactante de transformação pessoal e deixar-se envolver pela ação do Espírito. Para essa realização Jesus nos ensina a fazer discernimentos, assim como Ele fez. Parte do desejo de viver uma vida fraterna mediante: o exercício da não violência (Mt 5,9); a luta em favor da justiça (Mt 5,10); a opção pelos pobres e pela vítima (Lc 6,20); o cuidado do enfermo e do fraco (Lc 7,21). Trata-se de viver um estilo de vida que reluz a importância do humano.
Estamos discernindo nossas vidas à luz das palavras, dos gestos e das ações reveladas por meio da humanidade de Jesus?
Com palavras fortes, o Papa Paulo VI, em 1968, ao falar dos pobres e da Eucaristia, recorda:
“Vós sois um sinal, uma imagem, um mistério da presença de Cristo. O Sacramento da Eucaristia nos oferece sua presença escondida, viva e real; vós também sois um sacramento, isto é, uma imagem sagrada do Senhor no mundo, um reflexo que representa e não esconde seu roto humano e divino […]. Ademais, Jesus mesmo no-lo disse em uma página solene do Evangelho, onde proclama que cada homem dolente, faminto, enfermo, desafortunado, necessitado de compaixão e de ajuda, é Ele, é como se Ele mesmo fosse esse infeliz, segundo a misteriosa e potente sociologia (cf. Mt 25, 35ss) segundo o humanismo de Cristo.” (Discurso do Papa Paulo VI em Bogotá por ocasião do Congresso Eucarístico, 23/08/1968).
A Iniciação à vida cristã, pensada como processo consciente de evangelização, forma verdadeiros discípulos missionários de Jesus. A comunidade inteira vai se transformar e vai ser sinal do Reino.
• que dá testemunho de si mesmo.
• que traduz a experiência do encontro com Deus.
• Que se transforma em uma comunidade iniciadora na fé mistagógica.
Sem vida comunitária não é possível iniciar alguém na fé cristã. A vida comunitária é indispensável para a Iniciação Cristã de alguém. Precisamos de comunidades vivas, acolhedoras, atuantes, ou a iniciação à vida cristã se tornará mais uma “gaveta” na pastoral que fazemos.
A Iniciação à vida Cristã é lugar privilegiado de animação bíblica da vida e da pastoral. Todo os processos de iniciação se fundamentam na Sagrada Escritura e na Liturgia, educam para a escuta da Palavra e para a oração pessoal, mediante a Leitura Orante, evidenciando uma estreita relação entre Bíblia, Catequese e Liturgia.
O Evangelho da vida está no centro da mensagem de Jesus.
Neuza Silveira de souza é teóloga leiga, com especialização em teologia pastoral voltada para a catequese, objeto de sua especialização e pesquisa de mestrado. É coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.