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O Padre não deu bom dia

 

 

 

O coração da nossa fé, eixo de nossa vida, oriente de nossa existência neste mundo é Cristo Jesus. Somos todos convidados a expressar essa verdade uns aos outros. É sobretudo pelas celebrações que a Igreja explicita este Mistério que, em poucas palavras, consiste no envio, por parte de Deus, nosso Pai, de seu Filho querido. E assim, convivendo conosco, compartilhe da vida divina e qualifique nosso tempo com a eternidade. Na missa, este casamento entre Deus e o mundo é claramente exposto quando cantamos um hino-aclamação chamado popularmente de Santo: “O céu e a terra estão cheios de vossa glória. Hosana nas alturas!” 

Por esta razão, a celebração eucarística é uma convocação para firmamo-nos no Amor de Cristo. Já no início dela, a assembleia litúrgica, isto é, a Igreja em oração, bendiz o Senhor por reunir-se conforme o Espírito de Jesus. A resposta, em português, para a saudação inicial, quase invariavelmente é esta: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo.” Esta maneira de aclamar o Senhor, não é apenas um gesto de boa educação à saudação proferida por quem preside. Ela revela a presença de Cristo em meio ao seu povo, uma vez que a Igreja é seu Corpo sacramental, isto é, visível.

 Certa vez, uma senhora, muito respeitosamente, dirigiu-se ao padre de sua comunidade e lhe perguntou o porquê de ele não dar “Bom dia”, “Boa tarde” ou “Boa noite” no início das celebrações. De algum modo, ela pensava que aquilo fosse um tanto quanto falta de educação. “Todos queremos receber o seu "bom dia", Padre!” – comentava. Muito educadamente, o Padre lhe explicou que não havia melhor “bom dia”, isto é, melhor saudação, do que aquele previsto pela Igreja nos ritos iniciais da Missa: “Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo esteja convosco.” 

Não podemos esquecer que na Missa e nas demais celebrações litúrgicas da Igreja, é Cristo quem preside mediante a pessoa do ministro. A saudação, portanto, é feita ao seu modo. Neste sentido, se folhearmos a Sagrada Escritura, encontraremos a maneira própria do Ressuscitado cumprimentar seus amigos, quando se apresenta diante deles na reunião dominical: “Shalom aleihem”, quer dizer: “Paz para vocês!” Por esta ótica, podemos concordar que um simples “bom dia” seria muito pouco. Até porque, em primeiro lugar, deve estar a Palavra de Deus e Jesus Cristo é, Ele mesmo, esta Palavra feito carne entre nós. Por essa razão, reeditamos em nossa voz – isto é, mediante nossa corporeidade, nossa carne – os gestos e palavras do Filho Amado. Não importa, portanto, o “bom dia” do padre ou de quem quer que seja. Vale muito mais a riqueza da graça, do amor e da comunhão que em Cristo nos vem visitar para tornar nosso “dia”, nosso tempo, mais feliz.