Ir para página principal

Terceira Catequese mistagógica sobre a oração do Senhor

Na oração do Pai-Nosso, afirmamos que Jesus deu aos seus discípulos tudo aquilo que é seu, incluindo seu modo próprio de relação com Deus. Esse “modo próprio” de relação refere-se, em grande medida, ao Espírito Santo, pois o Espírito ocupa o espaço entre o Pai e o Filho, enquanto potência do Pai na sua capacidade geradora e enquanto potência no Filho, na sua propriedade filial. Em relação à primeira pessoa, é próprio de Deus ser Pai e isso se realiza no Espírito e, em relação à segunda pessoa, é próprio de Deus ser Filho e isso se realiza também mediante o Espírito Santo.

Ao rezar o Pai-Nosso, algo de espiritual acontece, isto é, a oração dá-se por força do Espírito Santo. E mais que pronunciar uma formulação, invocar a Deus como Pai, supõe Alguém que transforme o orante em filho, incorporando-o ao Filho amado de Deus. Essa incorporação a Jesus, supõe do Filho uma anterior incorporação solidária da humanidade inteira: Jesus assumiu a humanidade e se fez um com todos os homens e mulheres. Assim, aos discípulos que pedem “ensina-nos a orar”, Jesus concede uma oração que inclui o agir do Espírito que nele operava abundantemente. Esse agir é permanente em ensinar a orar como o Filho, pois é ato permanente de inclusão Àquele que unicamente pode dizer “Pai”: Jesus.

 Uma oração espiritual

Orar é uma atividade religiosa e a oração faz parte de qualquer religião. Se porventura, uma experiência religiosa fosse reduzida ao mínimo, a oração seria, sem dúvida alguma, sua célula matricial. Mas a oração cristã, tem sua particularidade em Jesus. Dentre as particularidades, está o humilde reconhecimento que se eterniza nas palavras dos discípulos: “Senhor, ensina-nos a orar”, e as muitas recomendações para que orem incessantemente, erguendo mãos santas a Deus e como povo sacerdotal intercedendo pelo mundo (cf. 1Tm 2,8). O apóstolo Paulo também o reconhece quando diz:

Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois nãos sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que ele intercede pelos santos.[1]

O Espírito é aquele que se interpõe entre o orante e o Pai, com gemidos inefáveis, isto é, de forma indizível, que ultrapassa o entendimento. A palavra de Paulo faz recordar Ana, a mulher que ora a Deus de forma estranha e faz o sacerdote pensar estar bêbada (cf. 1Sm 1,9-18). Suas palavras, na verdade, estão regadas pelo pranto e pela aflição e ela se coloca confiantemente nas mãos do Senhor. A suposta embriaguez da mulher remete a outra suposta embriaguez, a dos apóstolos, no dia de Pentecostes (cf. At 2,5-15), depois de terem recebido o Espírito Santo. A oração inefável, que brota do coração confiante do Filho, tem também lugar na cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste”. Quando assim clamou, pensaram estar chamando por Elias, sendo também para eles uma oração incompreensível (cf. Mc 15,33-35).

 

 

 

 

 

 

 

 

Padre Danilo dos Santos Lima