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A Liturgia e seu caráter iniciático (1) - Paróquia São Sebastião e São Vicente

 

A Liturgia como Mistério

A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium (SC) afirma que, dentre as diversas atividades da Igreja, a Liturgia aparece como a mais importante.

Mas, por que a Liturgia ocupa um lugar excepcional na vida dos cristãos e cristãs? Certamente há outras ações eclesiais de grande importância, não seria uma supervalorização das celebrações?
Primeiramente, é importante salientar que, ao tratarmos da Liturgia da Igreja não estamos nos referindo apenas às celebrações, estritamente falando. O Catecismo da Igreja Católica se faz a mesma pergunta e a responde citando a SC 2: a Liturgia é o Mistério de Cristo anunciado e celebrado.

Dom Piero Marini diz que é a própria vida do Filho, que se torna vida da Igreja e vida do cristão e cristã. Esta conclusão é fruto de uma análise cuidadosa da SC que, em seus primeiros números, descreve a Liturgia não por conceitos mas como um acontecimento salvífico, como História da Salvação. Isso significa que a Liturgia não é um evento cerimonial acrescentado ao Mistério da Fé, mas é parte constitutiva deste mesmo acontecimento.

Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também obra de sua Igreja. Ela realiza e manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão entre Deus e os seres humanos por meio de Cristo. Empenha os fiéis na vida nova da comunidade. Implica participação ‘consciente, ativa e frutuosa’ de todos. (CIC 1071).

Quando a SC narra o que se dá na Liturgia celebrada (para somente depois nos oferecer um conceito dela) fala de um movimento de autorevelação que nasce no coração de Deus, que se dá a conhecer em seu Filho Jesus como Pai de todos; este ministério cumprido por Jesus é ofertado aos discípulos e discípulas para que o prolonguem no mundo. A Liturgia celebrada, então, faz parte deste Mistério de Cristo.

Quando celebramos, desde o Batismo até os demais sacramentos e sacramentais, bem como todas as outras formas de oração da Igreja, é o mesmo Mistério Pascal que recordamos acontecendo em nós. É um caminho pelo qual trilhamos para que tudo em nós respire Cristo e seu Evangelho, afinal somos homens e mulheres novos, segundo o Espírito. Por isso o Concílio afirmou a Liturgia como cumen et fons da vida cristã (SC 10). Por ela, vamos sendo formados segundo a vida do Filho, à medida que tomamos para nós os seus gestos e somos iluminados por sua Palavra. É assim que rezamos na missa:
Pela participação neste mistério, ó Pai todo-poderoso, santificai-nos pelo Espírito e concedei que nos tornemos semelhantes à imagem de vosso Filho [...]. Fazei que todos os membros da igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhem-se, de verdade, no serviço ao Evangelho. (OE VI-C)

Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos de nossos irmãos; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. (OE VI-D)

Eis porque a Liturgia é a mais importante das ações que a Igreja possui: porque é mediante os ritos e preces que vamos aperfeiçoando a graça recebida no Batismo. É pela celebração da Igreja que vamos progredindo no seguimento de Jesus, e sendo iniciados plenamente em seu Mistério Pascal, de modo que nos identifiquemos com Ele, até que seja Ele quem viva em nós. E assim, o Chifre da Salvação continue a proclamar a vitória.

 

               

Padre Márcio Pimentel, é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)